Artigos de Opinião

Blockchain e Web3: mudança de paradigma

21/12/2022

A tecnologia Blockchain faz parte da minha vida desde 2014. Antes tinha estado quatro anos a trabalhar no mundo dos pagamentos tradicionais, com maior foco na área de desenvolvimento.

Iniciei-me no mundo das startups como empreendedor pois acreditava muito no que chamamos "fazer diferente". Esta época de descobertas fez-me mudar do usual para o disruptivo, adaptando uma proposta mais tradicional a um mercado ainda desconhecido e sem "compliance".

Admito que no início, senti-me desafiado em como é que podia ajudar esta comunidade a crescer e tornar-me parte dela. Aos poucos, fui evoluindo nos vários projetos e apercebi-me de um grande entrave: o "produto Blockchain" em si era extremamente difícil de vender. Isto é, tudo o que vinha agregado não fazia diferença para o utilizador final, pois para o mesmo nada mudava. O cliente não iria comprar ou utilizar o produto por esta funcionalidade maravilhosa, pela razão de que, entender o conceito de descentralização é um paradigma muito complexo. Há que perceber que o ganho de algo construído nesta tecnologia não é imediato e que o seu valor na imutabilidade das informações. Isto torna os projetos e as empresas do género pouco atrativos para os investidores.

O público consome o tangível e a Blockchain é a ferramenta que transforma o tangível, ou seja, não vende de forma direta. Não conseguimos desenvolver produtos que possam ser consumidos por empresas de forma direta e que estas coloquem a mensagem "utiliza a tecnologia blockchain" como um atrativo de venda, porque as pessoas simplesmente ignoram essa parte. Se os clientes querem produtos de qualidade e cada vez mais simples de entender e usar, então o Blockchain não é um termo muito amigável para o marketing porque apresenta sempre um problema na hora de se vender. Este foi o meu primeiro desafio neste mundo da descentralização.

A chave é estar mais próximo do dinheiro.

Certo dia, estava à conversa com um investidor, quando lhe falei de um dos meus projetos disruptivos e revolucionários (o pai tem sempre orgulho do seu filho, não é verdade?). No final da conversa o investidor simplesmente perguntou: ok, mas como é que eu ganho dinheiro? Se eu investir no seu projeto, em quanto tempo teria o meu ROI (Return On Investiment) e de que forma é que poderia trazer mais investidores? Como é que o marketing conseguiria explicar ao cliente que o produto não possui uma área de suporte? Como explicar ao mesmo cliente que em caso de falha de uso, não existe uma empresa para reclamar, visto que estamos a entrar numa fase diferente chamada Web3? Resumindo, a era da descentralização. A partir do ano 2018 e após 2019 com a chegada da pandemia, as pessoas tiveram mais tempo para estudar os paradigmas, estudar a Blockchain, de procurar ganhos de forma passiva, comprando e vendendo as famosas criptomoedas.

Por este motivo, decidi mudar um pouco o meu modelo de negócios para ficar mais próximo do dinheiro, trabalhando assim em inteligências artificiais de compra e venda automatizada das chamadas moedas virtuais. Consegui ter resultados modestos, mas um pouco mais constantes, durante um curto período como Blockchain Developer e tranquilizei-me. Neste mundo do Blockchain, tudo muda muito rápido e os cripto ativos tornaram-se inimigos de uns, amigos de outros, mas sempre de extremos, quer de amor ou ódio. Algumas criptomoedas foram associadas a esquemas fraudulentos e a pirâmides financeiras. Uma vez mais, perdi a minha tranquilidade, mesmo fazendo tudo de maneira correta e ética. As pessoas só veem o lado errado das coisas, tudo o que está no meio mesmo que um pouco, também está errado. Resumindo, perdi mais uma vez.

Blockchain como produto é a chave

Este é um ambiente hostil para se trabalhar com as novas tecnologias Blockchain. A Web3 é de facto uma ferramenta necessária na descentralização. No entanto, o desafio principal é reverter a imagem manchada para um produto.

Grandes instituições estão a entrar no mercado de Criptomoedas, os países adotam-nas como uma solução para inflação e desvalorização das suas próprias moedas correntes, os Bancos Centrais criam soluções para pagamento com dinheiro 100% digital. Isto é, uma revolução é inevitável e vai acontecer em breve. A Web3 vem para corrigir alguns problemas atuais e contém duas premissas básicas: a descentralização e tokenização.

Descentralização

Tudo é baseado no consenso, uma inteligência autónoma que por obrigação não tem um chefe ou responsável. Os pontos de decisão são pulverizados geograficamente e são criados novos membros, tornando o acordo mais forte. O desafio principal é que os poderosos não o controlam, de uma forma a priorizar as suas decisões. O poder estaria na mão do povo e este teria a força da decisão final.

Tokenização

O produto de troca resultante dos consensos, seria os novos tokens criados ou mesmo a tokenização de ativos. Na verdade, hoje ouvir falar em termos como tokenizar jogadores de um clube de futebol, o voto, ou até mesmo a cadeia de processos (supply chain) soa a normalidade para esta nova geração.

A chave para nos encaixarmos nesta revolução é criarmos produtos que tornem este processo mais transparente para o utilizador. A grande quantidade de projetos também apresenta grandes desafios, visto que mesmo sendo bons projetos criam perguntas como: qual é a tecnologia de Blockchain mais certa? Qual é o consenso correto? Como impedir o controlo de decisão por um país ou grupo? Estes são os desafios que se apresentam à nossa frente, prontos para serem vencidos.

Estamos numa época em que o produto principal é um velho conhecido e infalível em vendas chamado confiança. Temos de transformar a Blockchain numa fábrica de confiança. Esta é a chave de venda e o produto a ser empacotado.

Diogo Souza - Technical Leader - Adentis

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